Anga Catupei (Alma nua)

Imagens indígenas na cidade que alguns dizem não ter alma
 
Silêncio!
 
Vejam o que para muitos não existe…
 
Escutem o silêncio nativo do profundo das angas (almas) indígenas que povoam a ensurdecedora cidade de São Paulo. Vejam imagens invisibilizadas dos Povos Originários que circulam pela multifacetada Paulicéia Desvairada.
 
Sensibilizem-se com a delicadeza de pigmentos naturais em folhas de plantas lembrando a terra, criando terreno e tornando-se territórios imagéticos. Uma polifonia de imagens harmônicas e ancestrais indígenas florindo a partir do jenipapo.
 
Sim… a cidade do Peixe Seco (Piratininga), rebatizada de São Paulo, nunca deixou de ser indígena – uma Tabatatyba Piratininga (Peixe Seco – Taba de vários povos). Sempre foi e continuará sendo.
 
Estas são as sensações trazidas pela exposição terra terreno território, da fotógrafa e artista visual Dani Sandrini. Por meio de seu olhar sensível e profundo, a quarta maior cidade indígena do Brasil (IBGE, 2010) se revela.
 
Terra terreno território fez-nos visíveis.
 
Nas ruas, praças e viadutos da Piratininga vivem e circulam homens e mulheres de ancestralidade indígena. Por vezes, foram expulsos ou forçados a saírem de suas terras natais. A estes, somam-se os nascidos na própria cidade, onde constituíram territórios diversos e de feições variadas.
 
As imagens expostas em terra terreno território expressam (re)existências resistentes a mais de cinco séculos de violências, iniciadas pelas invasões européias.
 
E, mais que isso, ao utilizar elementos naturais em seu trabalho, Dani recorda a sacralidade da natureza para os Povos Originários. Ela é moradia de nossas/nossos Encantadas/Encantados, dos Ancestrais e da Espiritualidade. Em tempos em que “ecocídas” queimam a mata, a exposição nos relembra da teia que a tudo nos integra. Somos parte da natureza e ela é a nossa energia vital.
 
São Paulo é Indígena e por isso falamos: Kuekatureté, Dani, por possibilitar alcançarmos um pouco destes saberes que moram na natureza e habitam nossa essência.
 
Convido a todos para que enxerguem esta exposição com Anga Catupei, com a Alma Nua, despida, limpa.
 
Casé Angatu Xukuru Tupinambá